Veja para que não seja você o próximo a escrever uma história como essa!!!
Amigo: você não imagina a dor que estou sentindo. É grande demais. E não há sedativo que acalme. Não, não é a dor dos meus ossos quebrados no acidente. Não, é a dor de ter causado tanta mágoa em quem sempre me amou, que sempre se preocupou comigo. Durante vinte anos...
Eu era um bebê. Quantas vezes acordava com alguém debruçado no meu bercinho arrumando as cobertas. Ou estaria ali apenas para me olhar? Olhar não, extasiar-se com o bebê que eu era.
Os anos passam. Mas o amor de pai, de mãe, não passa. Pelo contrário, cresce junto com os filhos. Não, cresce mais... Cresce mesmo quando já paramos de crescer...
E eu completei vinte anos!... Vinte anos com muito amor e carinho. Vinte anos muito felizes. E ganhei um carro. O meu carro!
E os conselhos que me davam. “Não beba! Não corra! Cuidado com o trânsito!” Quem sempre me deu tanta coisa, também me dava conselhos!
Apenas um trago a mais... E outro... E outro...
E eu entrei na estatística dolorosa dos jovens que morrem em acidentes de carro.
Vinte anos de amor e carinho que acabou de repente. E começaram as horas com pais, irmãos e amigos chorando inconsoláveis. E eu quieto, imóvel, sem poder consolá-los, sem poder pedir perdão pela dor que estou lhes causando.
Que foi feito daqueles vinte anos de tanta alegria e felicidade? Foram apagados pelas horas em que estou estendido, imóvel, vendo-os chorar, e lembrar os anos felizes.
Apenas um a trago a mais... Na sala ao lado, outra mãe, outro pai e irmãos choram a morte do amigo que levei naquele passeio que acabou tão mal. E ainda tem aquele menino que ia pela calçada, que eu atropelei, e que nunca mais se levantará da cama.
Ah! Se eu pudesse pedir perdão a todos que eu magoei tanto. Mas pedir perdão, de que adianta? Pedir perdão não traz de volta aquele amigo. Nem vai fazer aquele menino voltar a caminhar.
Nem vai secar as lágrimas que eu fiz tanto derramar...
Ortênsia Muradás Dapena – Cruz Alta21/04 Dia Mundial da Paz no Trânsito.
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