A União Européia está, desde 2004, divulgando um projeto que lança uma nova luz sobre as relações entre acidentes de trânsito, população, quantidade de veículos em circulação e quantidade de quilômetros rodados por período. Sugestivamente, o projeto adotou o “slogan” de SALVAR 25.000 VIDAS NO TRÂNSITO, POR ANO, A PARTIR DE 2.010. Esta maneira de sugerir o objetivo principal é, para começo de conversa, moderníssima: trata-se da adoção de medidas para salvar vidas, um chamamento altamente positivo, e não para diminuir a quantidade de mortos, que sempre lembra quantos estão morrendo hoje. Isto certamente influenciará o ânimo de apoiadores, promotores, patrocinadores e colaboradores em geral, mesmo que, ao final da campanha, se possa dizer que a quantidade de vidas salvas seja igual à de mortos a menos. A EU está apresentando o Projeto em cada capital de estado-membro: no último dia 12 de junho, foi feito o lançamento oficial na capital da Slovênia, Bratislava. A parte criativa do Projeto é a de aceitar que se filiem ao plano, indiscriminadamente, todos os que, de qualquer forma, desejarem contribuir para que a meta, sem dúvida extremamente ambiciosa, seja alcançada.
Com 50.000 mortes por ano nos países-membros da EU, a meta significa, de forma simples e direta, que se deseja salvar METADE das vidas dos envolvidosem acidentes POR ANO, a partir de 2.010. Diante de uma notícia como esta, por si só interessante e provocadora, pois a quantidade anual de 50.000 óbitos em acidentes de trânsito na Europa e no Brasil são semelhantes, mesmo que nossas estatísticas sejam artificiais e furadas, não há como deixar de analisar alguns números de lá e de cá.
Os países membros da Europa têm 494 milhões de habitantes (2.007), que utilizam uma frota de mais de 218 milhões de veículos automotores (2.005). Como já dito, são cerca de 50.000 os mortos por ano, além de 1.700.000 feridos. O Brasil conta com 180.000 milhões de habitantes, 33 milhões de veículos e supostamente os mesmos 50.000 óbitos/ano, com cerca de uns 650.000 feridos. Usando cálculos simples, os europeus contabilizam 1 óbito/ano em acidentes com cada grupo de 4.360 veículos ou para cada grupo de 9.880 habitantes. Em contrapartida o Brasil, pelo mesmo diapasão, mostra 1 óbito/ano em acidentes com cada grupo de 660 veículos ou para cada grupo de 3.600 habitantes. Tivessem os condutores brasileiros a educação, a consciência, o civismo, as estradas, os veículos, o profissionalismo dos técnicos de manutenção, o poder aquisitivo e a vergonha na cara das administrações governamentais dos europeus, teríamos 1 vítima/ano para cada 4.360 veículos, ou um total de 7.578 óbitos/ano, sem dúvida uma miragem distante em um país onde quem deveria cuidar disso não está nem aí…
Contra todas as probabilidades e aproveitando o lançamento de uma Frente Parlamentar por um Trânsito Seguro, proponho que iniciemos um projeto igual, talvez denominado de SALVE 25.000 POR ANO: COMECE AGORA ou algo parecido, convocando todas as forças vivas do País para que apresentem e adotem ações criativas e eficazes para salvar a metade das vidas que, DE QUALQUER OUTRA MANEIRA, serão irremediávelmente perdidas a cada ano. Fábricas de veículos, revendedores, seguradoras, mantenedores de veículos, associações de esportes com veículos, escolas, clubes de serviço, educadores, políticos, governos em todos os níveis, enfim todos os profissionais de todos os ramos que utilizem veículos de uma ou outra forma, mesmo que coletivos. Como país do futebol, vamos transformar este Projeto em um campeonato anual entre as Unidades da Federação, cada qual ostentando como números iniciais as estatísticas que temos hoje e competindo com os demais para apresentar os melhores números na rodada estatística seguinte.