quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

ACORDA BRASIL

A União Européia está, desde 2004, divulgando um projeto que lança uma nova luz sobre as relações entre acidentes de trânsito, população, quantidade de veículos em circulação e quantidade de quilômetros rodados por período. Sugestivamente, o projeto adotou o “slogan” de SALVAR 25.000 VIDAS NO TRÂNSITO, POR ANO, A PARTIR DE 2.010. Esta maneira de sugerir o objetivo principal é, para começo de conversa, moderníssima: trata-se da adoção de medidas para salvar vidas, um chamamento altamente positivo, e não para diminuir a quantidade de mortos, que sempre lembra quantos estão morrendo hoje. Isto certamente influenciará o ânimo de apoiadores, promotores, patrocinadores e colaboradores em geral, mesmo que, ao final da campanha, se possa dizer que a quantidade de vidas salvas seja igual à de mortos a menos. A EU está apresentando o Projeto em cada capital de estado-membro: no último dia 12 de junho, foi feito o lançamento oficial na capital da Slovênia, Bratislava. A parte criativa do Projeto é a de aceitar que se filiem ao plano, indiscriminadamente, todos os que, de qualquer forma, desejarem contribuir para que a meta, sem dúvida extremamente ambiciosa, seja alcançada.
Com 50.000 mortes por ano nos países-membros da EU, a meta significa, de forma simples e direta, que se deseja salvar METADE das vidas dos envolvidosem acidentes POR ANO, a partir de 2.010. Diante de uma notícia como esta, por si só interessante e provocadora, pois a quantidade anual de 50.000 óbitos em acidentes de trânsito na Europa e no Brasil são semelhantes, mesmo que nossas estatísticas sejam artificiais e furadas, não há como deixar de analisar alguns números de lá e de cá.
Os países membros da Europa têm 494 milhões de habitantes (2.007), que utilizam uma frota de mais de 218 milhões de veículos automotores (2.005). Como já dito, são cerca de 50.000 os mortos por ano, além de 1.700.000 feridos. O Brasil conta com 180.000 milhões de habitantes, 33 milhões de veículos e supostamente os mesmos 50.000 óbitos/ano, com cerca de uns 650.000 feridos. Usando cálculos simples, os europeus contabilizam 1 óbito/ano em acidentes com cada grupo de 4.360 veículos ou para cada grupo de 9.880 habitantes. Em contrapartida o Brasil, pelo mesmo diapasão, mostra 1 óbito/ano em acidentes com cada grupo de 660 veículos ou para cada grupo de 3.600 habitantes. Tivessem os condutores brasileiros a educação, a consciência, o civismo, as estradas, os veículos, o profissionalismo dos técnicos de manutenção, o poder aquisitivo e a vergonha na cara das administrações governamentais dos europeus, teríamos 1 vítima/ano para cada 4.360 veículos, ou um total de 7.578 óbitos/ano, sem dúvida uma miragem distante em um país onde quem deveria cuidar disso não está nem aí…
Contra todas as probabilidades e aproveitando o lançamento de uma Frente Parlamentar por um Trânsito Seguro, proponho que iniciemos um projeto igual, talvez denominado de SALVE 25.000 POR ANO: COMECE AGORA ou algo parecido, convocando todas as forças vivas do País para que apresentem e adotem ações criativas e eficazes para salvar a metade das vidas que, DE QUALQUER OUTRA MANEIRA, serão irremediávelmente perdidas a cada ano. Fábricas de veículos, revendedores, seguradoras, mantenedores de veículos, associações de esportes com veículos, escolas, clubes de serviço, educadores, políticos, governos em todos os níveis, enfim todos os profissionais de todos os ramos que utilizem veículos de uma ou outra forma, mesmo que coletivos. Como país do futebol, vamos transformar este Projeto em um campeonato anual entre as Unidades da Federação, cada qual ostentando como números iniciais as estatísticas que temos hoje e competindo com os demais para apresentar os melhores números na rodada estatística seguinte.

Um comentário:

Charles Brasil disse...

A primeira constatação de quem compara os dados estatísticos de acidentes de trânsito no Brasil com os de outros países é a de que somos um povo estranhamente violento quando dirigimos. Realmente, seja por acidentes em relação à população, ao número de veículos em circulação ou à quantidade de quilômetros rodados, estamos mal na fotografia. Ao tentarmos investigar as causas concluiremos, como sempre, que a quantidade de horas dos cursos teórico e prático para a obtenção da 1a. habilitação é insuficiente, que a prova realizada nos DETRANs é pouco rigorosa, que a educação para o trânsito nas escolas foi decretada há 10 anos e até hoje não funciona, que a fiscalização deveria ser mais rigorosa, que os automóveis estão saindo de fábrica velozes demais, que as estradas brasileiras não são conservadas adequadamente, enfim, o que é dito sempre. Como estas deficiências são sempre lembradas e jamais atacadas adequadamente, começo a me perguntar se, realmente, os condutores são os únicos que necessitam de uma educação melhor. Voltando ao cenário internacional, desta vez para vislumbrar um panorama da educação em geral, constatamos que os países da Europa formam três grupos principais: o dos países anglo-saxões (Inglaterra, Escócia, Irlanda, Alemanha, Áustria, Suíça), o dos países neo-latinos (França, Espanha, Itália, Portugal) e o dos países nórdicos (Suécia, Noruega, Finlândia). Estes últimos apresentam níveis elevadíssimos de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e, sugestivamente, os melhores números de trânsito de todo o mundo. O grupo dos países anglo-saxões notabiliza-se por sediar as melhores universidades e oferecer um nível de vida bastante elevado para populações muito maiores que as dos países nórdicos. O grupo europeu de países neo-latinos é o menos homogêneo: todos tem boas escolas mas, de resto, não dá para comparar este grupo com os outros e, mesmo dentro do grupo, a França com Portugal, por exemplo. Mais do que isso: embora tenham participado à mesma época da colonização dos novos continentes descobertos pelos navegadores, britânicos, franceses, holandeses, portugueses e espanhois deixaram marcas bem específicas em cada colônia: basta tomar os exemplos dos Estados Unidos (colonizados por ingleses) e Brasil (colonizado por portugueses), ou das colônias britânicas comparadas com as colônias hispânicas. Parece haver ainda uma certa influência religiosa em relação ao desenvolvimento humano: enquanto para a Igreja Católica, predominante em países neo-latinos, uma vida pobre e sacrificada acumula méritos para a vida eterna, para as Igrejas Protestantes nada há de errado em ser rico, viver bem e oferecer do bom e do melhor para os filhos, inclusive educação. Algumas conclusões saltam aos olhos: os países onde o nível geral de educação é elevado têm o melhor IDH, os Produtos Internos Brutos (PIBs) mais expressivos e aoresentam os melhores índices de segurança no trânsito. Analisando à luz destas constatações os números do trânsito do Brasil, podemos concluir com chance razoável de acertar que, se conseguirmos elevar a educação formal do Brazil aos níveis da educação formal dos países europeus citados, teremos melhorado a qualidade dos nossos condutores de tal forma que os níveis de acidentes certamente irão refletir a conquista. Cidadãos educados adequadamente são bons filhos, bons alunos, bons condutores e bons cidadãos. Quando constituírem famílias, serão por sua vez bons pais, bons educadores, bons políticos e darão bons exemplos pessoais de cidadania. A fórmula ideal parece ser, assim, a da boa educação formal com educação para o trânsito nas escolas, em todos os níveis. Menos que isso ou só a metade não darão os resultados que a Sociedade Brasileira está exigindo.

Bate Papo - Por um Trânsito Seguro